A Revolução Mamdani: Como um Socialista Muçulmano de 34 Anos Conquistou Nova Iorque
A vitória sísmica sobre a dinastia Cuomo sinaliza uma nova era para a capital do capitalismo, provocando pânico em Wall Street e festa no Queens.
Noite da eleição, Brooklyn Paramount Theater. O ar está elétrico, denso com uma energia que parecia impossível há apenas seis meses. Quando as projeções da AP e da CNN confirmam o impensável, a multidão explode. No palco, Zohran Mamdani, 34 anos, sobe ao pódio, não como um político tradicional, mas como o líder de um movimento.
“Eles nos disseram para baixar o tom”, ele brada, com a voz rouca. “Eles disseram que Nova Iorque nunca aceitaria um socialista muçulmano. Eles disseram para esperar nossa vez. E Nova Iorque respondeu esta noite… AUMENTE O VOLUME!“
A frase, uma referência direta ao seu passado como rapper e DJ, tornou-se o grito de guerra de uma campanha que acabou de fazer o impensável: derrotou Andrew Cuomo, o ex-governador e herdeiro da dinastia política mais poderosa de Nova Iorque, para se tornar o 111º Prefeito da Cidade de Nova Iorque.
Com 50,4% dos votos contra 41,6% de Cuomo (que concorreu como independente), Zohran Mamdani não apenas ganhou. Ele iniciou uma nova era.
Parte 1: Quem é Zohran Mamdani?
Para entender a revolução, é preciso entender o revolucionário. Zohran Kwane Mamdani não é um produto da máquina política democrata. Ele é o oposto.
- Idade e Origem: Aos 34 anos, ele será o prefeito mais jovem de Nova Iorque em mais de um século. Ele nasceu em Kampala, Uganda, e mudou-se para Nova Iorque aos sete anos.
- Família de Intelectuais: Ele é filho de gigantes acadêmicos e artísticos. Sua mãe é Mira Nair, a aclamada cineasta indiana de filmes como “Casamento à Indiana” (Monsoon Wedding) e “Salaam Bombay!”, indicada ao Oscar. Seu pai é Mahmood Mamdani, um renomado professor de antropologia e política na Universidade de Columbia, ele próprio um ugandense de ascendência sul-asiática.
- Identidade: A etnia de Mamdani é complexa: ele é um indiano-ugandense e se identifica orgulhosamente como muçulmano. Sua eleição faz dele o primeiro prefeito muçulmano e o primeiro sul-asiático na história de Nova Iorque.
- Educação e Carreira: Formado pelo Bowdoin College, ele trabalhou como conselheiro de despejo, ajudando inquilinos a lutar contra proprietários — uma experiência que se tornou a pedra angular de sua política de habitação. Antes disso, era um artista de hip-hop.
Parte 2: O Campo de Batalha: Socialismo vs. A Dinastia
A eleição de 2025 não foi uma disputa normal. Foi um referendo ideológico. De um lado, Andrew Cuomo, o ex-governador caído em desgraça que tentava um retorno improvável, representando o centro-democrata, o poder estabelecido e a velha guarda. Do outro, Mamdani, um membro declarado dos Socialistas Democráticos da América (DSA).
O público perguntava: “O que é socialismo?” Para Mamdani, a resposta não era teórica; era prática.
Inspirando-se em figuras como Eugene Debs (um líder socialista americano histórico), a plataforma de Mamdani é radicalmente simples:
- Habitação para Todos: Congelar aluguéis e usar o poder da cidade para construir moradia social em massa.
- Transporte Público Gratuito: Eliminar as tarifas de ônibus e metrô.
- Um “Green New Deal” para NYC: Investimento maciço em energia renovável e empregos verdes.
- Taxar os Ricos: Aumentar impostos sobre as maiores corporações e bilionários da cidade para financiar os programas sociais.
Para seus críticos, isso é “comunismo”. Para seus apoiadores, é simplesmente o que se espera de um governo funcional na cidade mais rica do mundo.
Parte 3: A Queda de Cuomo e a Ascensão de Zohran
A vitória de Mamdani só foi possível pela tempestade perfeita. Andrew Cuomo, já enfraquecido por escândalos, decidiu concorrer como independente após perder as primárias democratas. Ele acreditava que seu nome e seu poder de arrecadação poderiam dividir o voto e permitir-lhe vencer.
Ele estava errado. A campanha de Mamdani transformou a arrogância de Cuomo em sua principal arma. Enquanto Cuomo representava o passado (seu pai, Mario Cuomo, também foi governador), Mamdani representava o futuro.
As urnas mostraram uma divisão geracional clara: jovens e eleitores da classe trabalhadora em bairros como Queens e Brooklyn compareceram em números recordes para Mamdani, superando a base mais velha e rica de Cuomo em Manhattan.
Parte 4: O Pânico dos Bilionários
A reação à vitória de Mamdani foi imediata e visceral. O bilionário de fundos de hedge Bill Ackman, que passou meses atacando Mamdani como “antissionista” e perigoso, postou no X (antigo Twitter): “Este é um dia trágico para Nova Iorque. Estamos testemunhando o fim da cidade como a conhecemos.”
O New York Post (NYPost), de propriedade de Murdoch, estampou em sua capa uma foto sombria de Mamdani com a manchete: “PREFEITO VERMELHO” (RED MAYOR). Comentaristas conservadores como Ben Shapiro dedicaram seus podcasts a alertar sobre a “fuga de capital” de Nova Iorque.
Eles não estão totalmente errados em se preocupar. A plataforma de Mamdani é uma declaração de guerra direta ao status quo financeiro que governa a cidade.
Parte 5: O que Vem por Aí?
Zohran Mamdani toma posse em 1º de janeiro de 2026. O período de transição, liderado por sua “Transition 2025” team, já é o ingresso mais quente da cidade.
- O Mandato: O mandato do prefeito de Nova Iorque é de quatro anos.
- A Grande Pergunta: Muitos perguntam: “Zohran Mamdani pode concorrer à presidência?” A resposta é não. A Constituição dos EUA exige que o presidente seja um cidadão nascido no país. Mamdani nasceu em Uganda.
No entanto, a presidência pode não ser o ponto. Como prefeito da capital financeira e cultural do mundo, Mamdani agora tem um megafone maior do que a maioria dos senadores.
Ele não é apenas o novo prefeito. Ele é o líder de uma nova esquerda americana que acabou de provar que pode vencer no palco mais difícil de todos. O experimento socialista de Nova Iorque começou.